Bahia: Mulheres são beneficiadas por programa Mães de Favela
Entre as muitas consequências da pandemia do novo coronavírus estão o desemprego e a perda de renda. A solidariedade se tornou uma forte aliada em meio à luta no combate à doença, e quem tem pouco ajuda quem tem menos ainda. Em Salvador, mulheres que receberam ajuda da Central Única das Favelas passaram a liderar projetos da Cufa, ajudando outras pessoas em situação de vulnerabilidade social.
(Esta história faz parte da série Gente que inspira, que mostra iniciativas que estão levando esperança a comunidades no momento mais crítico da pandemia.)
Marluce Jesus Farias Lopes mora com um neto de quatro anos no loteamento Condor, bairro de Águas Claras. Para ela, 2020 foi um ano difícil e 2021 segue no mesmo ritmo. "Eu trabalho de forma independente, como vendedora de cosméticos. Ficou inviável visitar as clientes para mostrar os produtos, pois se eu sair posso adoecer ou trazer a doença para casa", relata.
Com a queda nas vendas, Marluce passou a contar com a ajuda de doações da Cufa. "Em um domingo, no mês de novembro, chegou aqui na comunidade um caminhão de biscoitos e me chamaram para ajudar a descarregar. Fui com alguns parentes e, no final, deram uma caixa de biscoito para cada, mas era muito. Eu disse que bastava uma caixa só para dividir entre os familiares e vizinhos. E assim foi feito", lembra.
A coordenadora da Cufa em Águas Claras notou o gesto de Marluce, que pensou nos outros para partilhar o que recebeu, e a convidou para fazer parte do grupo. Desde então a autônoma não apenas descarrega os caminhões, como organiza filas, distribui os donativos e coleta assinaturas dos beneficiados. Ela se tornou co-coordenadora da Central no local onde vive.
Em algumas ocasiões, Marluce esteve na mesma fila de pessoas que hoje contam com a ajuda dela. Além de alimento, no ano passado ela recebeu três cartões vale-alimentação no valor de R$ 120 cada e álcool em gel.
A Cufa está presente em Salvador e cidades da região metropolitana, além de outros 10 municípios baianos, como Feira de Santana, a 100 km da capital, Santa Rita de Cássia, na região oeste, e Porto Seguro, no extremo sul. Outras bases estão sendo montadas no interior.
Entre as que já existem e as que estão em formação, mais de 90% estão sob o comando de mulheres. "Muitas delas beneficiadas e se tornaram lideranças do ano passado para cá. Hoje temos uma rede muito forte", afirma Márcio Lima, presidente da Cufa na Bahia. Ele contabiliza que somente no bairro de Cajazeiras, em Salvador, estão atuando aproximadamente 20 mães.
Com o aumento do número de casos do novo coronavírus em todo o Brasil, a Cufa retomou, no início de março, o programa "Mães da Favela". O projeto foi criado há um ano com o objetivo de mobilizar a sociedade a auxiliar as mães solos de periferia no enfrentamento dos impactos da crise.
“A favela sempre foi isolada socialmente. A pandemia escancara essa realidade. Queremos voltar com a mobilização do Mães da Favela a todo vapor. Para isso, a sociedade tem que vir junto com a gente, como veio anteriormente, para contemplar o máximo de pessoas possível”, explica Preto Zezé, presidente nacional da Cufa.
Ele destaca que muitas mulheres precisaram deixar os trabalhos para cuidar dos filhos, que estão fora de escolas e creches - muitas crianças também perderam, na pandemia, avós, tios e familiares que cuidavam delas. Em meio a esse cenário, as doações tiveram uma redução drástica desde o fim do ano passado. Agora, sem auxílio emergencial e com o comércio fechado, a população precisa dessa ajuda.
O programa consiste no pagamento de uma bolsa de R$ 240 e doações de alimentos para as mães solo moradoras de comunidades. Em 2020, quase 20 toneladas de alimentos foram entregues em mais de cinco mil favelas brasileiras. Na Bahia, foram distribuídas aproximadamente 45 mil cestas básicas e três mil cartões com vale-alimentação.
Para tanto, são mobilizadas empresas e também pessoas físicas. As doações podem ser feitas diretamente no site do programa. Também é possível buscar informações na rede social da Cufa-BA. "Em Salvador, muita gente está arrecadando por conta própria, promovendo aniversários solidários e nos procura pela internet. Isso tem ajudado bastante", diz Márcio Lima.
Para a segunda fase do projeto na Bahia, está prevista a distribuição de quatro mil cartões, com duas parcela de R$ 120, além da distribuição de máscaras, álcool em gel e alimentos. As famílias beneficiadas são cadastradas previamente por voluntários nas localidades onde a Cufa está presente.
Assistente social por formação, Márcio trabalha em comunidades há mais de duas décadas e diz que poucas vezes encontrou situações tão complicadas como no período da pandemia.
Informações/G1
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